ASPERSÃO DOMINICAL, POR QUE FAZÊ-LA?
Pe. Cristóvão Dworak, CSsR
E-mail: kdworak@hotmail.com.
Talvez em algum domingo você já tenha sido “surpreso” com a substituição do costumeiro Ato penitencial
na celebração eucarística pela aspersão da água benta. Com frequência
cada vez maior, ainda que, timidamente, diversos subsídios litúrgicos
trazem esta proposta ritual. Alguém poderia perguntar: O Ato penitencial
pode ser substituído? Por quê? Onde tal substituição encontra a sua
fundamentação? Qual é o sentido desta substituição? O que ela pode
proporcionar?
A Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR) quando se refere ao Ato penitencial
afirma que este pode ser substituído pela aspersão: “Aos domingos,
particularmente, no tempo pascal, em lugar do ato penitencial de
costume, pode-se fazer, por vezes, a bênção e aspersão da água em
recordação do Batismo” (MR n. 51). E ainda, a orientação própria do rito
indica: “O rito da bênção e aspersão da água pode ser realizado em
qualquer igreja ou oratório, em todas as Missas Dominicais, mesmo quando
antecipadas no sábado à tarde” (MR, p. 1001).
A razão mais forte para tal substituição encontra-se na própria
ritualidade do Mistério Pascal, cujo centro é a celebração do Tríduo
Pascal. Vale destacar que, a celebração do Tríduo Pascal é um tipo
exemplar, por assim dizer, para todas as celebrações da Igreja ao longo
do Ano Litúrgico. Assim, o ponto alto destas celebrações é a Vigília
Pascal, na qual, o lugar eminente ocupa a solene celebração do batismo
dos catecúmenos, precedido pela benção da água, e seguida da aspersão da
assembleia participante. Contudo, até mesmo quando na Vigília Pascal
não haja batismo, o rito prevê a bênção da água e a aspersão do povo
reunido. Consequentemente é justamente este rito pascal e batismal que
fundamenta a prática da aspersão da assembleia litúrgica, que se reúne
para a celebração dominical. A exortação inicial do MR explicita a
finalidade deste rito:
Irmãos e irmãs em Cristo,
invoquemos o Senhor nosso Deus para que se digne abençoar esta água que
vai ser aspergida sobre nós, recordando o nosso batismo. Que ele se
digne ajudar-nos para permanecermos fiéis ao Espírito que recebemos (Missal Romano, p. 1000).
Deste modo, a aspersão lembra dominicalmente aos fiéis, que o
batismo, um dia recebido, os incorporou a Cristo, tornando-os membros do
povo de Deus; que perdoou-lhes todos os pecados e os fez passar, livres
do poder das trevas, à condição de filhos e filhas adotivos,
transformando-os em nova criatura pela água e pelo Espírito Santo,
abrindo-lhes possibilidade de participar do sacrifício eucarístico no
qual se oferecem a Deus, com Cristo, como hóstias imaculadas (cf. SC n.
48). Neste contexto podem ser entendidas também as palavras da Carta aos
Hebreus:
Sendo assim, irmãos temos toda a
liberdade de entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus. [...].
Aproximemo-nos, então, de coração reto e cheio de fé, tendo o coração
purificado de toda má consciência e o corpo lavado com água pura (Hb 10,
19.22).
A aspersão recorda também, que o batismo e a profissão de fé, como lembrou o Papa Francisco por ocasião da oração da Regina Coeli,
rezada no dia 01 de abril deste ano, os faz traduzir a graça de Cristo
em atitudes, comportamentos, gestos e escolhas novas que marcam
profundamente a sua existência, a sua vida familiar, e as suas relações
sociais.
Na Carta Apostólica sobre a santificação do domingo, o beato papa
João Paulo II escrevia que o rito da aspersão substitui o ato
penitencial costumeiro, conferindo a este momento o aspecto
predominantemente pascal e põe em evidência a dimensão batismal do
Domingo. Respectivamente, Beckhauser esclarece que, o ato penitencial no
contexto da eucaristia, não pode ser tratado como uma celebração
penitencial. Ele deve ser visto como atitude de conversão, de preparação
e de abertura para a misericórdia divina a fim de acolher o dom de Deus
e participar frutuosamente da Eucaristia.
Destarte, o rito de aspersão pode ser acompanhado de antífonas ou
cantos apropriados, isto é, cujo conteúdo esteja ligado ao mistério do
batismo, da vida nova, da renovação do compromisso batismal e do júbilo
pascal. Vários cantos podem servir a esta finalidade, por exemplo: Ó água santa, ó agua pura; Vi as águas do templo; Vejo a multidão em vestes brancas; Banhados em Cristo, ou ainda alguns salmos como, por exemplo: Sl 26- O Senhor é minha luz e salvação; Sl 32 – Sobre nós venha Senhor o vosso graça; Sl 41- A Minh ‘alma tem sede de Deus; Sl 62 – A Minh ‘alma tem sede de vós; Sl 88 – Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor; Sl 125 – Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria, etc.
Daí podem ser dadas algumas sugestões para as Equipes de celebrações como:
• Introduzir a aspersão da assembleia, aonde ainda não
existe este costume. Isto para fomentar mais ainda no povo o sentido
pascal e batismal deste tempo e de cada domingo.
• Superar a tentação de fazer o que o se faz simplesmente o
ano todo, ou seja, repetir em todas as missas dominicais o Ato
penitencial costumeiro, conferindo aos ritos iniciais a sua dimensão
pascal.
• Preparar com antecedência um recipiente digno e
suficientemente grande para a água que será benta. Preparar também um
aspersório adequado. Cuidado com os aspersórios, aqueles pequeninos, que
permitem caírem apenas alguns pingos de água! O povo tem direito de
sentir a água sendo derramada sobre ele. Aliás, este é o sentido de
sinais sacramentais, que por natureza são sinais sensíveis! Alguns ramos
verdes, bem amarrados podem servir muito bem para tal função.
• Tomar cuidado com o modo de aspergir a assembleia
celebrante. Lançar a água, não é uma brincadeira! Não se pode
ridicularizar este gesto litúrgico, que merece respeito por parte de
quem asperge, e por parte de quem o recebe.
• Acompanhar a aspersão com o canto, hino ou salmos adequados para este momento celebrativo.
• Para a bênção da água, usar as fórmulas que são sugeridas pelo Missal Romano, pg. 1000.
• E como sempre é bom lembrar que a Equipe de Liturgia e a
Equipe de celebração têm direito de usar este rito, mesmo que não venham
sugeridos nos determinados subsídios litúrgicos.
Para saber mais:
BECKHAUSER, A. Novas Mudanças na Missa. Petrópolis: Vozes, 2003,4ª Ed.
BECKHAUSER, A. Os fundamentos da Sagrada Liturgia. Petrópolis: Vozes, 2004.
BUYST, I. Celebração do Domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002.
JOÃO PAULO II. Dies Domini. Carta apostólica sobre a santificação do domingo. São Paulo: Paulinas, 1998.
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