A Igreja sempre se ocupou do tema juventude. Esta não foi a primeira vez. A título de recordação citamos a CF de 1992 com o tema “Juventude Caminho aberto”, a 3ª CELAM em Puebla em 1979 e as JMJs, iniciadas no pontificado do Bem Aventurado João Paulo II. Neste ano, a CF novamente apresenta a questão da juventude com o tema: Fraternidade e Juventude e lema: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8).
Então, o que esperar de uma CF como esta no contexto do Ano da Fé e de uma JMJ?
Não é uma resposta fácil e sequer poderemos esgotá-la nestas poucas
linhas. Faremos algumas ponderações, levantaremos algumas dúvidas e
deixaremos algumas angústias. Um dos nossos referenciais nesta viagem
será Kierkegaard, visto que ele compreende a angústia como liberdade e
possibilidade de escolha. Assim, nos vemos diante de dois caminhos:
optar verdadeiramente por uma pastoral juvenil, alocando todas as forças
e recursos nesta direção ou nos mantermos numa pastoral apática e de
conservação, já criticada por Aparecida.
O último Censo de 2010 divulgado em julho de 2012, sinalizou uma
queda considerável do catolicismo no Brasil e neste cenário ficou
patente que temos dificuldade em manter na igreja jovens entre 15 e 29
anos. Nossa população de fieis é majoritariamente superior entre aqueles
que têm 40 anos acima. É evidente que os dados precisam ser melhor
cruzados e interpretados. Mas é bem aqui que se estabelece o desafio:
Como trabalhar com os jovens? Supomos que a resposta esteja ao nosso
alcance. E afirmamos que o maior dos gargalos de nossa ação pastoral
seja estratégica e metodológica.
Não podemos combater a concorrência neopentecostal com o arsenal
midiático que criamos. Não podemos entrar na lógica perversa da
propaganda utilitarista que sugere a formação de padres melhores, como
os midiáticos, ou do patrocínio da música católica pela Som Livre, ou da
produção de megaeventos, hipercristotecas, megatemplos, baladas
cristãs, etc.
Para fazer um caminho metodológico sem a pretensão de fazer um estudo
científico, tomamos algumas das reflexões de Ribeiro, J.C. em seu livro
Religiosidade Jovem - Pesquisa entre universitários, publicado pela Loyola e Olho d’Água, dentre outros artigos e publicações da CNBB.
Primeiro, é preciso saber dialogar e, isso não significa ter
todas as mídias à nossa disposição. A verdadeira comunicação acontece
num diálogo, gerando interação, onde nasce a confiança e a credibilidade
mútuas. Aqui vamos instalar uma dúvida: Será que olhamos a juventude
com verdadeiro interesse? Será que há interesse nosso em compreender o
que se passa com esta nova geração? “Para tanto não faltam instrumentos,
intenções e documentos”..., afirma Ribeiro. É preciso pensar na
qualidade dessa comunicação;
Segundo, é preciso querer conhecer. Não podemos evangelizar
quem não conhecemos e sequer poderemos evangelizar a partir do que dizem
as representações do jovem no “noticiário, a publicidade ou nossa
experiência pessoal (não é porque eu fui jovem que eu conheço a
juventude!)”. Cada geração é sui generis. É preciso ter uma visão englobante ‘das juventudes’. A partir daí poderemos começar um caminho;
Terceiro, na ordem do Ser. O quê ou quem são
os jovens atuais? A resposta envolve um esforço multidisciplinar para
tentar sair do olho do furacão. Segundo Ribeiro, em um estudo clássico
do historiador Eric Hobsbawm “a juventude deixou de ser um estágio
preparatório para a vida adulta e tornou-se um momento da realização
plena do ser humano”, resultando que a partir de agora, todos querem ser
jovens. Isso desencadeou um processo exploratório pelas grandes marcas e
empresas que viram neste público o alvo das ofertas e do consumo. Os
resultados do consumismo nós conhecemos... Daqui nos vem a pergunta mais
sufocante: O que querem afinal nossos jovens?
Querem estar entre os seus “iguais”. Com isso não queremos dizer que o
pai, a mãe, o padre, o professor, saiam de seu papel. Particularmente
combatemos posturas que conflitam com o sadio desenvolvimento dos
papéis. É preciso gerar ambientação que favoreça níveis de
sociabilidade, e que o jovem encontre força necessária para sair em
direção ao mundo ‘macro’ da sociedade. Mas é preciso tomar cuidado,
sobretudo pelo fluxo exagerado do consumo de novidades e esta juventude
tem necessidades muito concretas que não são simples de atender:
educação, emprego e participação política.
Por fim, após delinearmos em poucas palavras o perfil, a demanda e o
contexto em que vivem nossos jovens a pergunta que nosso interlocutor
poderá fazer é a seguinte: Qual é a nossa contribuição para esse jovem?
Temos algo a oferecer? Será que agora teremos que fazer pesquisa de
satisfação para atender bem a nossa “clientela”? Bem, estas perguntas
vêm do lugar de onde nós estamos enquanto agentes. Mas me permitam:
Admiramos realmente a juventude? Será que aprendemos com eles? No
documento da CNBB, Evangelização da Juventude, os Bispos dizem
que os jovens são um “lugar teológico”. De fato, eles falam, mas é
preciso de nossa parte esforço gigante para acolhê-los. É preciso nos
contagiarmos pela sua seiva jovial. Precisamos descentralizar poderes e
nos permitir decisões compartilhadas e, enquanto Igreja precisamos dar
uma guinada na resposta ao desafio que os jovens nos impõem, senão os
próximos censos continuarão a apontar redução dos fiéis. Mas nem tudo é
angústia e somos ao final compelidos a “pensar que o problema não é
tanto o tamanho do rebanho, mas o fulgor de sua chama, afirma Ribeiro.
Se deixar-se entusiasmar junto com a juventude, se estancar a
desidratação da própria seiva, se não abortar o espírito livre que o
insufla desde sua origem, então o catolicismo se manterá relevante – é
isso que importa”.
Pe. Acássio Alves
Pós-graduado em Psicologia Educacional
Coordenador Diocesano de Pastoral
Assessor da Pastoral Universitária e Referencial da Juventude na Diocese de Itabuna.
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