sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Juventude e Igreja: o desafio de fazer uma pastoral juvenil

A Igreja sempre se ocupou do tema juventude. Esta não foi a primeira vez. A título de recordação citamos a CF de 1992 com o tema “Juventude Caminho aberto”, a 3ª CELAM em Puebla em 1979 e as JMJs, iniciadas no pontificado do Bem Aventurado João Paulo II. Neste ano, a CF novamente apresenta a questão da juventude com o tema: Fraternidade e Juventude e lema: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8).
Então, o que esperar de uma CF como esta no contexto do Ano da Fé e de uma JMJ?
Não é uma resposta fácil e sequer poderemos esgotá-la nestas poucas linhas. Faremos algumas ponderações, levantaremos algumas dúvidas e deixaremos algumas angústias. Um dos nossos referenciais nesta viagem será Kierkegaard, visto que ele compreende a angústia como liberdade e possibilidade de escolha. Assim, nos vemos diante de dois caminhos: optar verdadeiramente por uma pastoral juvenil, alocando todas as forças e recursos nesta direção ou nos mantermos numa pastoral apática e de conservação, já criticada por Aparecida.
O último Censo de 2010 divulgado em julho de 2012, sinalizou uma queda considerável do catolicismo no Brasil e neste cenário ficou patente que temos dificuldade em manter na igreja jovens entre 15 e 29 anos. Nossa população de fieis é majoritariamente superior entre aqueles que têm 40 anos acima.  É evidente que os dados precisam ser melhor cruzados e interpretados. Mas é bem aqui que se estabelece o desafio: Como trabalhar com os jovens? Supomos que a resposta esteja ao nosso alcance. E afirmamos que o maior dos gargalos de nossa ação pastoral seja estratégica e metodológica.
 Não podemos combater a concorrência neopentecostal com o arsenal midiático que criamos. Não podemos entrar na lógica perversa da propaganda utilitarista que sugere a formação de padres melhores, como os midiáticos, ou do patrocínio da música católica pela Som Livre, ou da produção de megaeventos, hipercristotecas, megatemplos, baladas cristãs, etc.
Para fazer um caminho metodológico sem a pretensão de fazer um estudo científico, tomamos algumas das reflexões de Ribeiro, J.C. em seu livro Religiosidade Jovem - Pesquisa entre universitários, publicado pela Loyola e Olho d’Água, dentre outros artigos e publicações da CNBB.
Primeiro, é preciso saber dialogar e, isso não significa ter todas as mídias à nossa disposição. A verdadeira comunicação acontece num diálogo, gerando interação, onde nasce a confiança e a credibilidade mútuas. Aqui vamos instalar uma dúvida: Será que olhamos a juventude com verdadeiro interesse? Será que há interesse nosso em compreender o que se passa com esta nova geração? “Para tanto não faltam instrumentos, intenções e documentos”..., afirma Ribeiro. É preciso pensar na qualidade dessa comunicação;
Segundo, é preciso querer conhecer. Não podemos evangelizar quem não conhecemos e sequer poderemos evangelizar a partir do que dizem as representações do jovem no “noticiário, a publicidade ou nossa experiência pessoal (não é porque eu fui jovem que eu conheço a juventude!)”. Cada geração é sui generis. É preciso ter uma visão englobante ‘das juventudes’. A partir daí poderemos começar um caminho;
Terceiro, na ordem do Ser. O quê ou quem são os jovens atuais? A resposta envolve um esforço multidisciplinar para tentar sair do olho do furacão. Segundo Ribeiro, em um estudo clássico do historiador Eric Hobsbawm “a juventude deixou de ser um estágio preparatório para a vida adulta e tornou-se um momento da realização plena do ser humano”, resultando que a partir de agora, todos querem ser jovens. Isso desencadeou um processo exploratório pelas grandes marcas e empresas que viram neste público o alvo das ofertas e do consumo. Os resultados do consumismo nós conhecemos... Daqui nos vem a pergunta mais sufocante: O que querem afinal nossos jovens?
Querem estar entre os seus “iguais”. Com isso não queremos dizer que o pai, a mãe, o padre, o professor, saiam de seu papel. Particularmente combatemos posturas que conflitam com o sadio desenvolvimento dos papéis. É preciso gerar ambientação que favoreça níveis de sociabilidade, e que o jovem encontre força necessária para sair em direção ao mundo ‘macro’ da sociedade. Mas é preciso tomar cuidado, sobretudo pelo fluxo exagerado do consumo de novidades e esta juventude tem necessidades muito concretas que não são simples de atender: educação, emprego e participação política.
Por fim, após delinearmos em poucas palavras o perfil, a demanda e o contexto em que vivem nossos jovens a pergunta que nosso interlocutor poderá fazer é a seguinte: Qual é a nossa contribuição para esse jovem? Temos algo a oferecer? Será que agora teremos que fazer pesquisa de satisfação para atender bem a nossa “clientela”? Bem, estas perguntas vêm do lugar de onde nós estamos enquanto agentes. Mas me permitam: Admiramos realmente a juventude? Será que aprendemos com eles? No documento da CNBB, Evangelização da Juventude, os Bispos dizem que os jovens são um “lugar teológico”. De fato, eles falam, mas é preciso de nossa parte esforço gigante para acolhê-los. É preciso nos contagiarmos pela sua seiva jovial. Precisamos descentralizar poderes e nos permitir decisões compartilhadas e, enquanto Igreja precisamos dar uma guinada na resposta ao desafio que os jovens nos impõem, senão os próximos censos continuarão a apontar redução dos fiéis. Mas nem tudo é angústia e somos ao final compelidos a “pensar que o problema não é tanto o tamanho do rebanho, mas o fulgor de sua chama, afirma Ribeiro. Se deixar-se entusiasmar junto com a juventude, se estancar a desidratação da própria seiva, se não abortar o espírito livre que o insufla desde sua origem, então o catolicismo se manterá relevante – é isso que importa”.
Pe. Acássio Alves
Pós-graduado em Psicologia Educacional
Coordenador Diocesano de Pastoral

Assessor da Pastoral Universitária e Referencial da Juventude na Diocese de Itabuna.

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